sábado, 28 de abril de 2007

Avivamentos Via Comunidade



CONCLUSÕES

Qualquer um que ligar o aparelho de TV no noticiário, ou mesmo ler o jornal do dia, será lembrado da situação real em que se encontra a atual geração que, envolta em tantos problemas e traumas relacionais, demonstra o quanto que pessoas estão desesperadamente precisando de ajuda, apoio e sentido pra vida.

A quantidade de casais em litígio denunciam uniões mal-sucedidas, as quais não conseguiram resistir às intempéries de uma cultura hedonista, egoísta e que descarta Deus. As famílias, expostas às ideologias promíscuas produzidas pelas emissoras de TV, acabam acostumando e se amoldando às futilidades maléficas da mensagem que procede de artistas tidos como ídolos. Enquanto isso, a violência parece se avizinhar cada vez mais, dando ensejo à prevalência do medo e desconfiança. A integridade e honestidade viraram escasso produto em um mercado sem escrúpulos; e a solidariedade, que deveria marcar as relações humanas, dá lugar a uma indiferença que só aumenta a dor do que sofre.

“Relacionamentos Interpessoais” não pode se tornar em apenas mais um assunto discutido em sala de aula, tema tratado com fins mercantilistas e empresariais, ou mesmo título de seminário que promete fazer esta ou aquela igreja funcionar bem. Isto não é somente mais um assunto da vida; isto é a própria vida. Querendo ou não, a vida gira em torno deles; e já que não dá para se livrar deles, seria sábio cultivá-los bem, para o bem de todos.

Mais que ser encarado como conveniente e necessário, os relacionamentos precisam ser vistos como expressão do tipo de ser que o homem é: feito à imagem e semelhança de Deus. Na medida em que o homem se relaciona de forma humana, o que parece uma redundância, ele reflete a imagem divina que nele ainda encontra resquícios. Mas, se age de forma diferente, sobressai-se uma imagem deformada de um ser que não precisaria ser assim.

Visando restaurar a imagem que foi corrompida pelo pecado e pelo mal, Deus revelou sua Palavra de diversas formas, para que por ela o ser humano pudesse se direcionar e voltar à semelhança que, originalmente, lhe era própria. Porém, por força de um humanismo racionalista, alguns insistem em não se influenciar por esta revelação, enquanto tateiam entre os corredores da pura racionalidade arrogante, buscando encontrar conserto para as deformidades e anomalias de uma raça cada vez mais doente. No entanto, o Criador não ficou sem testemunho mesmo nestes que, guiados por uma consciência ainda que entulhada pelos escombros da queda, podem vislumbrar uma embaçada figura do homem ideal, cuja imagem primeira não pôde ser totalmente apagada.

Em meio às imagens claras das Escrituras e os rabiscos interessantes da ciência humana, está a igreja; aquela que tem o papel de reproduzir fielmente a imagem perdida, mas que pode ser reconstruída por meio dAquele que a idealizou e que decidiu restaurá-la por meio de Cristo, de forma que Seus discípulos possam expressar a figura do “Novo Adão” através de relacionamentos que expressem a santidade, a justiça e o amor próprios da Fonte originária de todas as coisas. Espera-se que Igrejas saudáveis em caráter e eficazes no cumprimento de sua missão se multipliquem em torno do Globo, levando a esta geração enferma, sofrida e desconfiada, a boa notícia de que há cura disponível para todos.

O homem é tendencioso ao egoísmo, mágoas, rivalidades, competição, brigas, intrigas e sempre pronto para usar pessoas por amor à coisas. Há uma parte do homem que reflete uma desumanidade quase diabólica que fere iguais, despreza diferentes e dá a mão somente àqueles que lhe tragam benefícios. O quadro está sendo posto de forma generalizada, mas em um nível ou outro parece que praticamente todos se encaixam na descrição acima. Resta aos filhos de Adão unir-se a Paulo na sua exclamação: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 7.24,25).

Por meio da Trindade, a primeira e única comunidade de relacionamentos perfeitos, o homem pode ser transformado em filho de Deus. Através de Jesus o ser humano é purificado, pelo Espírito Santo ele é transformado, e nos braços do Pai encontra apoio em todo instante! Assim, Trindade e Humanidade se unem, misteriosamente, numa relação de amor “que excede todo entendimento” (Ef 3.19).

Que Deus, na sua infinita misericórdia, levante Sua igreja para bem representá-lo, vivendo relacionamentos que expressem o Seu amor na dinâmica do uns aos outros, de forma que a mensagem do Cristo receba o devido crédito, e a cruz se torne atraente para aqueles que desejam crucificar o velho homem, a fim de dar espaço para um novo, criado à imagem e semelhança do Deus que também é denominado de Amor.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Avivamentos Via Comunidade



Uma Questão de Visão

Tudo começa na forma de pensar ou ver o mundo ao seu redor. Enquanto as pessoas pensarem que o sacerdócio na igreja é coisa de uma casta seleta, e se contentarem a serem meros contribuintes e assistentes de programa religioso, pouco, ou nada, acontecerá. A igreja deve ser uma comunidade formada de pessoas ativas nas suas relações para o bem de todos. O “uns aos outros” precisa sair do discurso de púlpito e virar vida na medida que gente cuida de gente, pessoas alimentam pessoas, cristãos visitam e confortam outros cristãos. Esta interação interpessoal é poderosa o suficiente, nas mãos de Deus, para fazer pela presente sociedade muito mais do que se pode imaginar.

A começar pelo Novo Testamento, pode-se perceber que a igreja é identificada como um corpo, um organismo vivo que nutrido pelo Espírito de Deus, cresce, amadurece e se multiplica. Munidos com esta visão, algumas pessoas nas últimas décadas têm se utilizado da figura da célula para representar a vitalidade e as potencialidades do Corpo de Cristo. A analogia parece perfeita, já que os biólogos conceituam a célula como “A unidade estrutural básica dos seres vivos, e sede de todos os fenômenos vitais”. (ALMEIDA, s/d, 692)

Para aqueles que têm a visão que a igreja necessita se estruturar e funcionar em “células” (pequenos grupos de irmãos), há a compreensão de que estas “unidades estruturais básicas” darão a condição necessária para que se concretizem “todos os fenômenos vitais” relacionados com a vida espiritual da igreja. Estes “fenômenos vitais” referem-se, dentre outras coisas, ao amor profundo e sincero de uns cristãos para com outros, à fé sólida e constante em Jesus e ao fortalecimento da esperança em tudo quanto está prometido na Palavra de Deus. Desta forma, o corpo de Cristo cresce, amadurece e tem condições de se expandir e se multiplicar de maneira saudável. Joel Comiskey, um diligente pesquisador de igrejas que estão estruturadas em grupos pequenos ou familiares, conceitua as células de uma comunidade de cristãos como:

Grupos pequenos abertos focalizados no evangelismo que estão embutidos na vida da igreja. Elas se reúnem semanalmente para que os seus participantes se edifiquem uns aos outros como membros do Corpo de Cristo, e para anunciar o evangelho àqueles que não conhecem Jesus. O objetivo final de cada célula é multiplicar-se à medida que o grupo cresce por meio do evangelismo e das conversões que seguem. Dessa maneira os novos membros são acrescentados à igreja e ao Reino de Deus. Os membros das células também são encorajados a participar do culto de celebração da igreja inteira, quando as células se encontram para adoração. (2001, 17)

É oportuno notar que as igrejas que trabalham com a estrutura em células não dispensam os grandes encontros, nos quais todos os seus membros se reúnem para adorarem a Deus com cânticos, orações e pregação da Palavra de Deus. Para estas igrejas, a comunidade de cristãos precisa funcionar como um pássaro, utilizando-se das duas asas: a asa do pequeno grupo, onde se experimenta intimidade, apoio pessoal e transparência; e a asa do grande grupo, pela qual se providencia uma visão maior de corpo, ânimo e celebração coletiva da vida em Cristo (TOUCH:2004, B1). No entanto, mesmo que se mencione a necessidade do equilíbrio dos dois momentos: pequeno grupo e grande grupo, a ênfase acaba recaindo sobre ações que alimentam prioritariamente os pequenos grupos. O raciocínio é simples. Se as células estiverem bem cuidadas, isto é, se os membros estiverem pessoalmente bem assistidos e cuidados, a igreja como um todo estará em tal situação. Na medida que o membro e sua célula estiverem saudáveis, a igreja, como corpo, estará gozando de saúde e vida. Por isso, o ponto de partida não são reuniões de final de semana, eventos, programas e cultos; tudo começa com a assistência pessoal que cada um há de receber e dar, através da sua própria célula durante toda a semana.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Avivamentos Via Comunidade



Mudança de Ênfase do Institucional para o Relacional

Com o movimento promovido por Paul Yong Cho, passou-se a dar uma nova ênfase na forma de se trabalhar a estrutura da igreja local. O enfoque muda-se do institucional para o relacional, isto é, passa-se a trabalhar mais os relacionamentos entre os membros da igreja, visando o fortalecimento da comunidade enquanto pessoas desejosas de se sentirem úteis e valorizadas. A visão é que os membros não existam meramente para sustentar a instituição ou a denominação religiosa, mas para o cuidado uns dos outros visando o bem de todos. O que passa a importar não é quanto a instituição é grande e poderosa, mas como os seus membros vivem e se relacionam.

Evidentemente, muito ainda precisa ser feito para que esta mudança se generalize no meio do povo cristão. E o ponto de partida são os líderes, os quais precisam rever quais as suas reais motivações e interesses no exercício do seu ministério. Aqui é propício a seguinte advertência:

De uns anos para cá o sucesso transformou-se num princípio de definição e identificação pastoral. Livros, congressos, seminários são oferecidos para dar ao pastor as ferramentas para um melhor desempenho de sua vocação. Pastores “bem-sucedidos” são convidados para apresentar os meios e técnicas que transformaram suas pequenas e desprezíveis igrejas em grandes corporações e seus orçamentos mirrados em cifras gigantescas. Congressos de pastores às vezes assemelham-se às feiras onde os expositores apresentam as últimas novidades do mercado: novos modelos de grupos familiares, métodos infalíveis de crescimento da igreja, seminários para tornar a pregação mais cativante, a administração mais eficiente, a liderança mais competente. Manuais com técnicas e fórmulas de sucesso se multiplicam, a oração torna-se menos necessária e a igreja se assemelha mais a uma grande empresa do que a uma comunidade de irmãos.

(BARBOSA:2003, 87-88)

Não se pode admitir que pessoas, em nome de Deus, sejam usadas como meros instrumentos de promoção pessoal de algum líder ou mesmo para exaltação de algum conglomerado religioso. Mas, infelizmente, esta é uma prática muito comum, e que produz grandes e profundos traumas na vida daqueles que acabam por descobrir que não passavam de simples peças de uma grande engrenagem jeitosamente manipulada.

Quando a ênfase está na instituição, o que importa é a performance, o alcance de alvos, o treinamento técnico, a estrutura funcional. Quando o foco recai sobre os relacionamentos, o que mais vale são as atitudes, o caráter, o apoio mútuo, a paciência uns com os outros, o perdão quando não se acerta.

Usando a terminologia de Ricardo Barbosa, precisamos escolher qual o tipo de relacionamento que vamos desenvolver com as pessoas: se do tipo contrato ou do tipo aliança. Quando a relação se dá na base do contrato, a pessoa é valorizada e admirada se cumprir devidamente suas obrigações e se satisfizer as expectativas daqueles que com ela se relacionam. No caso da relação tipo aliança, o indivíduo é reconhecido pelo seu valor intrínseco, em função do que desenvolve amizades, é respeitado e acolhido, e como resposta ao amor recebido, ele cumpre com suas obrigações. De forma que as obrigações da aliança não se tornam condições para o amor, são respostas ao amor (BARBOSA:2003, 78). Os relacionamentos tipo aliança são os que as pessoas estão interessadas em encontrar. Ciente desta realidade, Schwarz afirma:

Amor de verdade dá à igreja um brilho, produzido por Deus, muito maior do que programas evangelísticos, pois nestes a ênfase recai exclusivamente sobre modos verbais de transmissão. As pessoas sem Deus não precisam de discursos sobre amor; elas querem experimentar o amor cristão na prática do dia-a-dia. (1996, 36)

As comunidades cristãs do Século XXI precisam dar um passo decisivo na direção de mudar o enfoque do seu ministério, caso a sua ênfase atual não esteja sendo no desenvolvimento de relacionamentos saudáveis, propositais e construtivos entre os seus membros. E o processo de mudança começa com as lideranças.

Se o intuito dos líderes for o de manter controle sobre a massa, usar as pessoas para alcançar seus objetivos pessoais e construir o seu próprio império, ao invés do Reino de Deus, eles farão o povo acreditar que sua única função é dar suporte financeiro e serviçal para os empreendimentos dos que se auto-proclamam especiais representantes de Deus na terra. Mas se os líderes forem parecidos com Jesus e seus primeiros discípulos, eles farão questão de ensinar o povo, com palavras e atos, que o sacerdócio cristão é de todo crente, e que através de fortes relacionamentos interpessoais, cada um encontrará seu espaço para colaborar na edificação do corpo de Cristo, dando sua valorosa contribuição para a construção de uma comunidade que realmente traz glória para Deus diante dos homens. O destaque não será mais o homem do púlpito ou o nome da denominação. O realce ficará por conta do amor que se manifestará no trato das pessoas que formam a comunidade, numa aliança de compromisso e abnegação.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Avivamentos Via Comunidade



O Reavivamento com Cho (Igreja de Seul)

Pouco depois da Segunda Guerra Mundial, surge uma nova personalidade no quadro eclesiástico global, Paul Yong Cho. Como pastor de uma comunidade de cristãos na cidade de Seul, estruturou sua igreja em pequenos grupos de irmãos para ensino e cuidado mútuo. Cada grupo tinha um líder e um auxiliar, os quais eram responsáveis pelo pastoreio do seu respectivo “grupo familiar”, que era como Cho chamava, e ainda chama, os pequenos grupos. Por conta da eficiência do acompanhamento pessoal e do trabalho dinâmico no alcance de mais pessoas através dos grupos familiares, a Igreja Yoido do Evangelho Pleno tornou-se a maior igreja da história do cristianismo, contando atualmente com centenas de milhares de membros na Coréia do Sul.

Assim como no caso do trabalho de Wesley na Inglaterra, a estrutura de pequenos grupos na igreja de Cho também se deu incidentalmente. Ele próprio conta que os grupos familiares foram formados para viabilizar o pastoreio e cuidado dos irmãos, num período em que adoecera. Mesmo depois de recuperado da enfermidade, Cho manteve a estrutura de células, a qual continuou sendo muito eficaz no aspecto de evangelismo, discipulado e acompanhamento dos membros. (CHO:1982, 58)


Abaixo temos o testemunho do próprio pastor coreano sobre a importância dos grupos familiares para o avivamento que eles experimentaram a partir da década de 60.

Os membros da Igreja Central do Evangelho Pleno estão entusiasmados. Experimentam reavivamento 365 dias por ano. Toda igreja precisa deste tipo de reavivamento e os membros de nossa igreja experimentam-no porque têm participação ativa nele. Reavivamento algum devia ser produto de uma única pessoa. Não reivindico responsabilidade pelo reavivamento que ocorre em nossa igreja. De fato, o reavivamento continua, quer eu esteja presente quer não, e, atualmente, gasto seis meses do ano viajando fora da Coréia. A igreja experimenta reavivamento quando não estou presente porque o Espírito Santo é capaz de usar todos os membros mediante os grupos familiares. Isso significa que o reavivamento não desaparecerá depois que eu passar, não enquanto a igreja aderir aos princípios dos grupos familiares sob a liderança do Espírito Santo. Há muita segurança para os membros nos grupos. Cada um torna-se membro da família com outros do grupo em um tipo de relacionamento social que é mais do que uma comunidade. No grupo cada pessoa é livre para discutir seus problemas e buscar aconselhamento e oração por eles. De fato, o relacionamento vai além do aconselhamento e oração; os membros realmente cuidam uns dos outros. (CHO:1982, 60)


Na igreja de Yoido do Evangelho Pleno, a estrutura de células não é apenas um ministério no meio de diversos outros que ocupam a agenda de seus membros. Lá, os grupos pequenos são a base de todo o trabalho e o eixo em torno do qual tudo se movimenta. O próprio Cho afirma que “Grupo familiar é a peça fundamental de nossa igreja. Não se trata de outro programa da igreja – é o programa da igreja” (CHO:1985, 46). A partir da estrutura de grupos familiares, tudo o mais é levado à efeito: a evangelização é concretizada na medida que o grupo, que funciona numa casa, se envolve na vida dos vizinhos e os convidam para as reuniões, onde escutam a Palavra de Deus; o discipulado é viabilizado, já que os novos convertidos passam a participar do grupo, tendo o compromisso de assiduidade e dedicação aos momentos de estudo bíblico e oração; a comunhão é aprofundada por meio do constante contato, interação e cooperação efetiva na vida uns dos outros; e a formação de novos líderes é facilitada, na proporção do envolvimento de cada membro do grupo no exercício de seus ministérios para o benefício dos demais.

Neste contexto de participação comunitária e restauração do sacerdócio de cada crente em Jesus, a igreja liderada pelo Pr Cho tem se tornado referencial para centenas e milhares de outras igrejas ao redor do mundo, as quais têm adotado os princípios vividos pela igreja de Seul. No entanto, deve-se reconhecer que muitas comunidades de cristãos, atraídas pelos testemunhos que o Pr Cho compartilhou nos seus livros, apressaram-se em implantar o sistema de grupos como algo paralelo à estrutura tradicional que vinham mantendo, causando assim, muitas frustrações; pois incorporaram as células ou grupos familiares como uma espécie de atividade adicional a vários outros programas que competiam pelo, já tão escasso, tempo do membro da igreja. O resultado foi uma superatividade por parte dos comprometidos que desejavam ser fiéis aos eventos e reuniões da igreja, enquanto houve uma aparente desconsideração por parte dos “descompromissados” que não conseguiram participar das novas ofertas congregacionais. Daí, algumas igrejas acabaram desistindo do sistema de grupos familiares, como se o problema estivesse na estrutura de grupo, e não na forma como ele foi aplicado. Felizmente, existem muitas igrejas que acertaram o passo, como será visto adiante.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Avivamentos Via Comunidade

Retrato de John Wesley,
George Romney - 1789

O Avivamento com Wesley

Em meados do Século XVIII, na Inglaterra, Deus levantou John Wesley para liderar um avivamento da igreja cristã naquele país. O que prevalecia era o sacerdotalismo corrupto, o religiosismo sem compromisso e o cerimonialismo oco que mantinha boa parte da Igreja Anglicana longe de viver os reais valores do Reino de Deus (LELIÈVRE:1997, 15,16). Com Wesley, o cristianismo passou a ser vivido na base de relacionamentos mais profundos, na medida que ele formava as “classes”, que eram pequenos grupos de cristãos que se reuniam semanalmente para estudar a Bíblia, orar uns pelos outros e ajudarem-se mutuamente a viver toda a vontade de Deus. O que marcou o movimento de Wesley não foi o institucionalismo clerical, mas as relações interpessoais entre os simples cristãos que se convertiam com a mensagem do puro evangelho.

Segundo o TOUCH Outreach Ministries (2004, C9-C10), uma instituição cristã americana que trabalha com a visão de igreja em células, John Wesley acreditava que decisões sem grupos pequenos eram prejudiciais, e ele desenvolveu um sistema de grupos pequenos – ou “método” – que veio a ser chamado de Metodismo. Chegou a formar 10.000 classes e cresceu por mais de 100 anos. As “classes” de Wesley exigiam participação obrigatória de seus membros, podendo ser lideradas por homens ou mulheres. Os grupos deveriam ter em torno de doze membros, de formação heterogênea (homens e mulheres juntos). A reunião semanal da classe era de uma hora, tendo compartilhamento transparente e cada segunda reunião do mês era aberta para não-crentes.

Conforme o biógrafo de Wesley, Mateo Lelièvre, baseado nas próprias anotações de diário do pregador inglês, afirma que a formação das classes se deu por um incidente, quando os principais cooperadores de Wesley estavam preocupados em saldar uma certa dívida.

"Uma dívida considerável pesava ainda sobre a capela de Bristol. No dia 15 de Fevereiro os principais membros daquela sociedade reuniram-se com o propósito de consultar sobre os melhores meios de amortizar a dívida. Alguém entre eles propôs que cada um contribuísse com um determinado valor por semana. Outro objetou que muitos deles eram muito pobres para suportar esse encargo. “Bem”, respondeu o primeiro, “sejam colocados comigo onze dos membros mais pobres; se eles puderem dar algo, tudo bem: eu os visitarei cada semana; e se não conseguirem oferecer algo, eu darei por eles e por mim. E cada um de vocês visite semanalmente onze de seus vizinhos, recolham o que puderem dar, e preencham a diferença”. “Assim foi”, diz Wesley, “que cada um lançou-se à campanha, e pouco tempo depois, segundo me informaram, descobriram que uns e outros membros não viviam conforme deveriam. Daí brotou o seguinte pensamento: ‘Esta é a organização que há tanto tempo estávamos precisando’”. A partir dessa data, Wesley reunia seus cobradores, que, além, de seu encargo financeiro, tinham o dever de zelar pelos interesses espirituais dos membros, informando ao pastor de tudo quanto era digno de atenção que observavam na sociedade. Algumas semanas mais tarde, esse sistema foi introduzido em Londres, e forneceu a todos os membros (da sociedade) a coesão que lhes faltava. “Desse modo”, diz Wesley, “começaram as nossas classes, pelas quais jamais poderei bendizer suficientemente a Deus, pois sua utilidade incalculável tem se ressaltado cada vez mais, dia após dia”. No início, os líderes de cada classe deviam visitar os membros em suas próprias casas; mas esse sistema não teve resultado prático, porque ocupava o tempo em demasia, que os líderes não tinham à disposição. Por essa razão, as visitas foram logo substituídas por uma reunião semanal dos membros da classe, na qual tratavam de assuntos religiosos, sendo que cada um contava suas experiências cristãs. Dividindo assim as sociedades em subgrupos com um responsável na frente de cada um, Wesley possibilitou grande eficácia e excelente disciplina em seu pastorado. Uma vez por trimestre, ele mesmo inspecionava as classes, investigando o estado espiritual de cada membro, e entregando a este uma certidão ou carta de membro que servia de autenticação de sua fidelidade". (LELIÈVRE:1997, 118-119)

Independente da forma como foram iniciados, os grupos pequenos de Wesley tornaram-se fundamentais na consolidação e expansão do movimento de avivamento que se deu na Inglaterra do Século XVIII. Com certeza havia o perigo de todo o esforço do avivalista resultar na formação de mais uma igreja que procurasse manter suas estruturas e instituições sem a devida eficácia no aspecto pastoral e relacional. No entanto, com os grupos ou classes, viabilizou-se a formação de uma rede de pequenos grupos de cristãos que se cuidavam e se apoiavam mutuamente.

É interessante lembrar que, simultâneo ao trabalho de Wesley, desenvolveu-se o ministério de Whitefield, grande e comovente pregador amigo de Wesley, que teve um trabalho bastante frutífero nos seus dias; milhares o ouviram e se converteram em função de seus poderosos sermões. Entretanto, não se escuta que Whitefield tenha deixado um trabalho tão bem estruturado e sólido como o de Wesley. Wesley soube equilibrar o trabalho com as multidões e os pequenos grupos. Ainda hoje existem centenas de igrejas metodistas pelo mundo, como fruto da estrutura deixada por aquele grande estrategista.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

PONTO DE VISTA SECULAR SOBRE RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS



As Redescobertas do Mundo dos Negócios

Falar de negócios é falar de relações interpessoais para fins de desenvolvimento sócio-econômico e satisfação pessoal das partes que interagem nestas relações. A nova perspectiva do mundo dos negócios acena para uma forma de tratamento entre as pessoas que tenta resgatar o respeito pelo ser humano, seja nas relações entre funcionários de uma mesma empresa ou na relação desta empresa com seus fornecedores e clientes. Quanto mais humana for a relação, maiores resultados serão obtidos. Quanto mais materialista, egoísta e meramente mercantilista for o envolvimento, menores as chances de se obter resultados realmente satisfatórios.

O Dr. Weil, quando abordado por certos empresários insatisfeitos, os quais queixavam-se que “A coisa não anda!”, por não verem os benefícios cedidos aos funcionários renderem uma maior produtividade, afirma:

“A coisa não anda”, porque ainda não foi criado dentro da empresa um ambiente de trabalho feito de confiança mútua e de respeito humano. O pessoal recebe ordens secas a serem cumpridas sem a mínima explicação e satisfação. Ora, sabe-se hoje que uma pessoa que faz uma coisa ciente da importância do seu trabalho e do seu respectivo valor, produz muito mais do que uma pessoa da qual se pede simplesmente obediência. (1978, 30-31)

Praticamente todas as experiências na vida são acompanhadas de satisfação ou não, dependendo do tipo de relacionamento que se mantém com as pessoas com quem se compartilha tais experiências. Porque, no final das contas, o que cada um dos seres humanos quer é usufruir relacionamentos que lhe confira um senso de valor e significado, de forma que a vida não se transforme em apenas numa sucessão de eventos pessoais provocados pelo vento do acaso. Como diz Kivitz: “O sentido da vida está em viver. Mas não um viver qualquer. Um viver qualquer é mera existência, suceder de dias” (2003, 8). Qualquer um que reflita seriamente na vida, jamais se contentará em viver sem perspectivas e sem propósitos, tendo em vista apenas a mera sobrevivência. Seja na escola, trabalho ou na família, mais importante que conquistar coisas que se tornam fins em si mesmas, é usufruir estas conquistas num ambiente de propósito, paz e harmonia com os que estão em volta.

Todos os livros que abordam questões relacionadas com o sucesso nos negócios apontam inexoravelmente para a necessidade da construção de uma saudável socialização com outros, de forma a gerar satisfação e harmonia entre as parte envolvidas. Mais que isto, nenhum destes livros nega a essencialidade de um cultivo pessoal que sirva como base para o desenvolvimento destas relações. Pelo contrário, há uma forte ênfase quanto a necessidade de tomar cuidados com o ser interior, numa busca de alcançar um equilíbrio pessoal que favoreça um alicerce seguro para a devida construção nas relações com outros. De fato, dificilmente alguém será bem sucedido nas interações humanas, caso não tenha sucesso no cultivo do próprio ser. As boas relações sociais são totalmente dependentes da boa relação que uma pessoa tem consigo mesma. Nas palavras de Covey (1989, 204), a vitória interna precede a vitória em público.

Você pode tentar melhorar suas interações sociais através de técnicas e manipulação da personalidade, mas corre o risco de afetar o caráter básico vital durante o processo. Não se pode ter os frutos sem as raízes. É o princípio da seqüência: a Vitória Interna precede a Vitória em Público. O autocontrole e a disciplina pessoal são a base de um bom relacionamento com os outros.

Na busca de realização pessoal, tema básico na tão popular literatura de auto-ajuda, nota-se o nítido intercâmbio de foco, isto é, para ser pessoalmente realizada, a pessoa necessita nutrir bons relacionamentos com outros; porém, para ser socialmente bem-sucedida, esta pessoa não deve descuidar de si mesma, investindo diligentemente no seu interior tendo em vista um satisfatório equilíbrio.

A temática das relações humanas é reconhecida como alvo da mais séria atenção de todos. Atribui-se a Dag Hammarskjold, ex-secretário-geral das Nações Unidas, o seguinte pensamento: “É mais nobre se entregar completamente a um indivíduo do que trabalhar diligentemente pela salvação das massas” (COVEY:1989, 221). O problema é que a cultura vigente funciona em torno de paradigmas que coroa o “super-herói” que salva a multidão, ainda que seja mera ficção; ovaciona histericamente o “super-star” que comove por sua performance profissional, não levando em consideração seu caráter ou a forma como trata os mais íntimos; eleva ao pedestal superior o mais bonito, inteligente e capaz, ainda que este não seja o mais ético e o mais confiável. A despeito de tanta incoerência, não se pode deixar de insistir em focalizar no que realmente importa, “se entregar completamente a um indivíduo” numa relação que celebra a vida real nos seus detalhes corriqueiros e fundamentais da existência humana. Afinal, ao contrário do que muitos pensam, a vida só se torna prazerosa e digna de ser vivida quando as pequenas coisas são valorizadas.

As pequenas gentilezas e cortesias são muito importantes. A falta de cortesia, o descaso ou o desrespeito, mesmo mínimos, provocam um afastamento considerável. Nos relacionamentos, as pequenas coisas se equivalem às grandes coisas”. (COVEY:1989, 211)

São estas “pequenas gentilezas e cortesias” no ambiente profissional, familiar e em qualquer outro meio social, que têm condições de edificar vidas com sentido, melhores e mais saudáveis. Geralmente, são os momentos comuns da vida, aqueles que ninguém se importa em colocar na primeira página dos jornais, que preenchem o viver com significado: o abraço do cônjuge, o beijo dos filhos, o passeio com a família na praia, o abraço amigo despretensioso, o sorriso dos colegas de classe ou do trabalho, o elogio sincero do professor ou do patrão, a simples atenção do aluno ou do funcionário, o respeito do vizinho. Não são exatamente estas expressões de humanidade que todos mais desejam experimentar?

A esperança, é que as instituições religiosas, científicas e corporativas se empenhem em estimular formas de interação humana que contemple a sociedade com uma experiência de vida que rompa com o individualismo egoísta, a competição inclemente e a desconsideração para com os que não têm força nem estrutura para enfrentar uma cultura tão irracional e desumana.

Que o conceito de vitória exposto por Stephen Covey, que acredita que nas interações entre pessoas só há vitória quando todos ganham, possa ser levado em consideração por aqueles que desejam entender qual o propósito da vida.

Vencer/Vencer é um estado de espírito que busca constantemente o benefício mútuo em todas as interações humanas. Vencer/Vencer significa entender que os acordos e soluções são mutuamente benéficos, mutuamente satisfatórios. Com uma solução do tipo Vencer/Vencer, todas as partes se sentem bem com a decisão, e comprometidas com o plano de ação. Vencer/Vencer vê a vida como uma cooperativa, não como um local de competição. A maioria das pessoas se acostuma a pensar em termos de dicotomia: forte ou fraco, duro ou mole, perder ou vencer. Mas este tipo de pensamento tem falhas estruturais. Ele se baseia no poder ou na posição, e não nos princípios. Vencer/Vencer se baseia no paradigma de que há bastante para todos, que o sucesso de uma pessoa não se conquista com o sacrifício ou a exclusão da outra. (1989, 228)

Este capítulo, que traz uma abordagem mais humanista e baseada em pensamentos ventilados no meio científico e empresarial, tem o propósito de desafiar os cristãos quanto ao tipo de relacionamentos que têm desenvolvido entre si. Ora, se até muitos dos que não crêem em Deus advogam, de forma tão contundente, sobre a necessidade de haver um trato mais humano entre as pessoas nas suas muitas relações, tanto maior deveria ser a atenção, neste aspecto, daqueles que se chamam “povo de Deus”.

sábado, 21 de abril de 2007

PONTO DE VISTA SECULAR SOBRE RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS

A necessidade que seres humanos têm de desenvolver saudáveis e produtivos relacionamentos interpessoais não é restrito aos arraiais de comunidades cristãs. Na verdade, toda a humanidade tem uma profunda sede emocional que somente significativas relações humanas podem saciar. E isto é claramente atestado por aqueles que se dedicam cientificamente à observação do homem.

A Contribuição da Ciência Moderna

Muitas ciências consideradas novas, como a sociologia e a psicologia, tratam do homem nas suas muitas relações sociais, seja no âmbito familiar, profissional ou comunitário, e os seus efeitos na saúde física, mental e emocional deste mesmo homem. Nestas relações, a devida interação interpessoal é imprescindível para o alcance de alguns dos principais objetivos do homem, tais como, sua felicidade e perfeita harmonia no meio em que vive.

Pierre Weil, Doutor em Psicologia pela Universidade de Paris, celebrando a trigésima edição de seu best-seller : Relações Humanas na Família e no Trabalho, prefacia esta mesma edição compartilhando várias possibilidades de resposta a uma pergunta que tem feito a si mesmo a respeito do seu livro: “Qual a razão de tamanho sucesso?”. Como uma das possíveis respostas, ele afirma o seguinte:

Tenho observado também que o título Relações Humanas exerce um poder de atração muito especial. Isto se deve, sem dúvida, a um fator importante na vida moderna: a deterioração tanto da “Relação” quanto dos valores do “Humano”. Cresce continuamente a solidão nas grandes cidades, tornando-se motivo de sofrimento para muita gente. De outro lado, os grandes valores eternos da humanidade: a Beleza, a Verdade e o Amor..., estão sendo eliminados, oprimidos pela tecnologia e frieza de uma certa ciência fundamentada num cartesianismo já quase obsoleto. (1978, 13)

A partir da forma de racionalização própria do Iluminismo, muitos passaram a propagar a “morte de Deus” e a tratar o homem como um feliz resultado de um grande acidente cósmico ocorrido há bilhões de anos atrás. Num momento posterior à Era Iluminista, surge a Revolução Industrial, sedimentadora de uma cultura capitalista selvagem, a qual transformou o homem numa peça de engrenagem que visa a produção e o enriquecimento de corporações para o benefício de uma pequena casta de dominadores. Como resultado do pensamento Iluminista e Industrial, o ser humano é reduzido a um simples animal evoluído, inteligente o suficiente para manter a produção e alimentar o sistema dominante. Com este tipo de descaracterização, não é de se admirar a agonia que muitos experimentam por viverem numa cultura de relações distorcidas entre seres desumanizados.

Parte da comunidade científica passou a descartar Deus, mas até hoje esta mesma parte não consegue desconsiderar elementos morais intrínsecos ao homem, os quais advogam eloqüentemente a favor de uma causa primeira pessoal e inteligente. Estes “elementos morais” tais como: verdade, justiça e amor, acabam sendo requeridos em termos de prática, na medida que os homens se esforçam para relacionarem-se entre si, numa interação construtiva que visa o benefício de todos. A partir daí, as Ciências Humanas entram como uma ferramenta que pode colaborar para esta boa interação pretendida. Weil, focalizando esta interação no âmbito do trabalho, afirma que é de competência da ciência:

Estudar as forças que fazem com que os indivíduos gostem um do outro, assim, a dinâmica psicossocial do grupo que se queira estruturar, ou mesmo reestruturar, para atingir melhor o objetivo, eis a primeira medida a tomar, a fim de se conseguir o máximo de rendimento de uma equipe de trabalho. Os psicólogos e sociólogos estão aptos a realizar esta importante investigação. Quanto mais a distribuição das funções, a distribuição do trabalho e a estrutura administrativa se aproximarem da realidade sócio-dinâmica do grupo, maiores serão as possibilidades de êxito. (1978, 37-38)

O que Weil chama de “realidade sócio-dinâmica do grupo”, Covey (1989, 205) denomina de “interdependência”, o que para ele é “a capacidade de construir relacionamentos ricos, duradouros e altamente produtivos com outras pessoas”. É para a possibilidade de construção destes tipos de relacionamentos que as ciências sociais apontam, desejando contribuir com a sociedade para a construção de uma realidade mais próxima daquilo que se considera o ideal.

Sem sombra de dúvidas, a ciência dos homens tem dado a sua colaboração para que se propague conceitos e princípios fundamentais quanto ao trato dos seres humanos entre si. No entanto, evitando alguma forma de pretensão ufana, é preciso assinalar que a ciência moderna, com suas novas terminologias e formas próprias de expressão, está apenas repetindo o que a legítima tradição cristã tem proclamado ao longo dos últimos vinte séculos. Para chegar a tal constatação, basta ler o que o Dr. Pierre Weil propõe como “Os 10 Mandamentos de Um Membro de Um Grupo” (1978, 45-46).

1. Respeitar o próximo como ser humano.

2. Evitar de cortar a palavra a quem fala; esperar a sua vez.

3. Controlar as suas reações agressivas, evitando ser indelicado ou mesmo irônico.

4. Evitar o “pular” por cima de seu chefe imediato; quando o fizer, dar uma explicação.

5. Procurar conhecer melhor os membros do seu grupo, a fim de compreende-los e de se adaptar à personalidade de cada um.

6. Evitar o tomar a responsabilidade atribuída a outro, a não ser a pedido deste ou em caso de emergência.

7. Procurar a causa das suas antipatias, a fim de vencê-las.

8. Estar sempre sorridente.

9. Procurar definir bem o sentido das palavras no caso de discussões em grupo, para evitar mal-entendidos.

10. Ser modesto nas discussões; pensar que talvez o outro tenha razão, e, se não, procurar compreender-lhe as razões.

Tanto nesta lista, como numa outra que o mesmo autor assinalou como “Os 10 Mandamentos do Líder” (1978, 75), praticamente dá para correlacionar vários textos bíblicos a cada um dos preceitos propostos. Não se quer, com tal afirmação, diminuir a importância do trabalho de profissionais como o Dr. Weil, mas apontar para o fato de que os princípios que regem relacionamentos saudáveis sempre serão os mesmos, independentemente do grupo social ao qual se pertence ou da linha de racionalização que se adote, seja bíblica ou científica.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Referência de Vida em Comunidade



Os Necessitados Eram Amparados

Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade” – Atos 2.45

Falar de amor, mas não dar provas através de atos é mero discurso vazio e insignificante. Os primeiros cristãos não ficavam só no discurso bonito. Eles agiam! Seus bens eram transformados em comida que alimentaria o faminto e em roupas que protegeriam pessoas do frio. Muito mais que comida e vestes, aqueles necessitados eram tocados pelo amor que se manifestava na vida dos doadores. Tão importante quanto a comida e as roupas, era saber que havia pessoas que se importavam com eles.

Serviam Publicamente E De Casa Em Casa

Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” – Atos 2.46

Neste versículo pode-se notar a periodicidade com que os cristãos se encontravam e a atitude interior no coração deles. Para a igreja primitiva, vida cristã não era algo apenas de final de semana, nem tão pouco para ser encarado como se fosse um grande sacrifício. Os primeiros cristãos se envolviam continuamente, usavam suas próprias casas para acolher pessoas e compartilhavam com satisfação aquilo que possuíam. Este é um modelo de igreja que precisa ser resgatado hoje.

Deus Era Louvado E Pessoas Eram Salvas

... louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” – Atos 2.47

O estilo de vida da igreja era tal, que caía na graça do povo. Mesmo as pessoas que não faziam parte da igreja eram simpáticas a tudo o que viam na vida dos cristãos. Certamente, o tipo de relacionamentos experimentados pelos discípulos de Jesus era algo bem diferente daquilo que os judeus estavam acostumados a ver. Tal testemunho de vida tornava-se uma ferramenta poderosa para fundamentar a proclamação do evangelho de Cristo, de forma que a própria vida dos cristãos constituía-se em um sinal da presença do Espírito de Deus que legitimava e confirmava a mensagem pregada.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Referência de Vida em Comunidade



Tinham Temor A Deus

Em cada alma havia temor” – Atos 2.43

As atuações de Deus no meio do povo produziam temor no coração dos cristãos. É difícil ver manifestações sobrenaturais e não temer. Em meio às operações sobrenaturais de Deus, o povo se mostrava reverente, respeitoso e disposto a não ofender ao Senhor com os seus pecados. Este senso de temor coletivo era saudável, e servia também como um instrumento regulador nas relações entre os participantes da igreja. Além disso, a visão da grandeza de Deus fazia diminuir em muito as poucas diferenças e possíveis desavenças entre irmãos.


Experimentavam O Poder De Deus

... e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos” – Atos 2.43

Os sinais, curas e milagres acompanhavam o ministério dos apóstolos como uma forma de autenticar a mensagem do evangelho que estava sendo propagada. É interessante notar que nos primeiros cinco capítulos de Atos apenas os apóstolos tinham poder para ministrar sinais no meio do povo. Este monopólio apostólico serviu como uma espécie de controle de segurança para que se confirmasse a autoridade dos apóstolos como representantes de Cristo. A partir do capítulo seis de Atos, com a imposição de mãos dos apóstolos sobre alguns homens que os ajudariam num serviço de ação social junto à viúvas, aquele poder é transmitido para estes homens de confiança, os quais também passam a ministrar curas e milagres, destacando-se Estevão no capítulo seis e Filipe no capítulo oito de Atos, os quais deram suas contribuições na divulgação da mesma mensagem dos apóstolos. Aqui podemos notar o cuidado que Deus teve para conceder, gradativamente, poderes sobrenaturais para outras pessoas além dos apóstolos. Tudo deveria acontecer dentro de um contexto de ordem e para a saúde de toda a comunidade.


Eram Unidos E Tinham Tudo Em Comum

Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum” – Atos 2.44

O mundo capitalista é caracterizado pela atitude tipo “cada um por si”. O que prevalece é o egoísmo, a competição e a indiferença em relação a necessidade alheia. Infelizmente isto não é um mal apenas do presente século, mas algo que parece ser tão antigo quanto a própria humanidade. A Bíblia ensina que quando o pecado entrou na raça humana, destruiu não apenas a comunhão do homem com Deus, mas também dos homens entre si. Porém, Jesus veio para resolver o problema do pecado e reconciliar o ser humano com Deus e uns com os outros. Daí poder-se ver no registro de Atos os efeitos da ação do Espírito de Cristo na vida dos seus discípulos, os quais passaram a ser reconhecidos pelo estilo de vida abnegado e altruísta, sempre visando o bem comum.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Referência de Vida em Comunidade



Tomavam A Ceia Do Senhor Juntos

... no partir do pão” – Atos 2.42

Segundo os estudiosos, esta expressão “partir do pão” era um termo técnico usado para se referir à Ceia do Senhor, que tornou-se o principal memorial dos cristãos, pois simbolizava a entrega do corpo e do sangue de Jesus em favor da humanidade (MARSHALL:1982). Na Ceia, a relação entre os cristãos era consolidada pela lembrança da morte daquele que foi para a cruz, a fim de que pelo seu próprio sacrifício pudesse formar esta nova comunidade de redimidos, colocando todos numa mesma família cujo Pai é Deus.

Eram Dedicados À Oração

... e nas orações” – Atos 2.42

Na oração, aquela igreja expressava a sua dependência coletiva de Deus. Para eles não bastava orar a sós, tinha que haver uma parceria na qual uns ajudavam os outros em oração, para que todos pudessem usufruir a presença real de Deus, “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. (Mateus 18.20)

É impossível ler Atos dos Apóstolos e não perceber a prioridade máxima que a igreja dava ao exercício da oração. Estavam orando logo após a ascensão de Jesus (1.14); perseveravam na oração mesmo depois da vinda do Espírito Santo (2.42); oravam pedindo forças para continuar a proclamação do Evangelho em meio às perseguições (4.23-31). Orar era um dos ministérios principais dos apóstolos (6.3,4). Enfim, diante das mais diversas situações que se lhes apresentavam, recorriam a Deus em oração, sabendo que do Senhor é que vinha o poder para continuarem sendo a agência de operação de Deus na terra.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Referência de Vida em Comunidade



Eles Aprendiam Dos Apóstolos

E perseveravam na doutrina dos apóstolos” – Atos 2. 42

Havia uma unidade em torno do ensino dos primeiros discípulos de Jesus, o que era imprescindível para a continuidade da realidade comunitária da qual participavam. Sem unidade doutrinária eles não conseguiriam a união de propósitos e de vida. A mensagem pregada pelos apóstolos era homogênea, se baseava na experiência que eles mesmos tiveram com Jesus e expressava o que tinham ouvido dele e o que havia acontecido com ele, especialmente sua morte e ressurreição.

Viviam Em Comunhão

... e na comunhão” – Atos 2.42

Comunhão tem a ver com compartilhar o que se tem e o que se é para o benefício daqueles com quem convive. Quanto a este aspecto, a igreja nos seus primeiros dias mostrou-se bastante comprometida com uma profunda comunhão, ao ponto do escritor de Atos dizer que “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum” (Atos 4.32).

É possível que pessoas façam muitos encontros e, freqüentemente, estejam reunidas, sem, no entanto, serem unidas; o que não era o caso da igreja em Atos, pois havia uma participação efetiva das pessoas na vida umas das outras, ao ponto de terem uma experiência como verdadeira família.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Referência de Vida em Comunidade



A Prática da Igreja Primitiva

O trabalho que Jesus fez na vida dos seus doze discípulos mais íntimos, chamados de apóstolos, foi o suficiente para treiná-los naquilo que realmente importava. Quando se lê o livro de Atos, descobre-se o resultado da influência de Jesus na vida deles e, através deles, na vida de outros discípulos.

"E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isto, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos". (Atos 2.42-47)

Observa-se que o texto acima não está falando de organização de igreja, nem de uso de prédios religiosos, nem de treinamento de clérigos para orientação dos “leigos”. O texto está falando de relacionamentos em amor, de cuidado uns com os outros, enfim, de vida em comunidade. Isto é que é Igreja! E este é que foi o poder que, na unção do Espírito Santo, impactou a sociedade judaica de então, ao ponto da igreja contar “com a simpatia de todo o povo”, e mais pessoas serem atraídas a Jesus e ao seu grupo de discípulos.

Por todo o livro de Atos dos Apóstolos pode-se notar como era a prática da igreja nos seus primeiros dias, que mesmo não sendo perfeita, tornou-se modelo para todas as outras que querem agradar ao Senhor. É oportuno observar algumas características positivas notadas a partir da passagem acima transcrita.
(Continua nas próximas postagens)

domingo, 15 de abril de 2007

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Formação De Novas Lideranças

O Evangelho de Mateus nos traz o seguinte registro:

"E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara". (Mateus 9.35-38)

Esta orientação continua válida para os dias de hoje. A necessidade é a mesma. Mudou-se os componentes que formam a multidão, mas ela continua necessitada, e o campo de trabalho sempre demandará uma quantidade de trabalhadores maior que os disponíveis. A igreja precisa de mais trabalhadores e de mais líderes. Porém, ela precisa de líderes que tenham o caráter semelhante ao de Jesus, que façam o trabalho da mesma forma como Jesus e que sigam o mesmo tipo de motivação: cuidar das pessoas por amor às pessoas.

O líder cristão ideal não é o que usa suas habilidades de liderança para fazer outros alcançarem os seus próprios interesses ou os da instituição que representa, mas é aquele que se dispõe a ajudar outros a desenvolverem seus potenciais para o benefício da coletividade e para a glória e honra de Deus.

Os líderes de igrejas que crescem concentram os seus esforços em capacitar outras pessoas para o ministério. Eles não usam os seus colaboradores como “ajudantes” para alcançar os seus próprios objetivos e implantar a sua visão. Pelo contrário, a pirâmide de autoridade é invertida: os líderes ajudam cada cristão a chegar à medida de plenitude intencionada por Deus para cada um. Eles capacitam, apóiam, motivam, acompanham a todos, direta ou indiretamente por meio de outros líderes, para que os cristãos se tornem aquilo que Deus tem em mente. Se observarmos esse processo mais detalhadamente, veremos que aqui são estimuladas capacidades orientadas tanto para objetivos quanto para relacionamentos.

Estes líderes precisam ter a visão de que o reino de Deus não é formado de estrelas, mas de pequenos focos de luz que iluminam este mundo. A comunidade é que precisa brilhar a glória de Deus através do amor, justiça e santidade que são evidenciados nos relacionamentos de uns para com os outros, e de todos estes para com a sociedade dentro da qual está inserida.

Há uma urgência inegável quanto à necessidade da formação de mais líderes, no entanto, na busca de cobrir a demanda, deve-se preservar o cuidado quanto ao tipo de lideranças que se tem produzido através dos populares seminários, congressos e cursos que visam este fim. A igreja não precisa de técnicos de igreja, por mais hábeis que sejam. Ela necessita desesperadamente de homens de Deus que sabem o que realmente significa orar; passar tempo em reflexão com a Palavra de Deus; tratar as pessoas como gente; liderar em amor, tendo numa mão a Bíblia, e na outra, uma bacia e uma toalha. Tais líderes poderão servir como modelo de uma nova safra de fiéis mordomos que honrarão o tipo de liderança vivenciada e requerida por Jesus.

sábado, 14 de abril de 2007

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Discipulado Relacional

LeRoy Eims, no seu livro A Arte Perdida de Fazer Discípulos, trás um alerta sobre o estado atual de muitas igrejas cristãs, as quais não conseguem cumprir a Grande Comissão delegada por Jesus, pela inabilidade de fazer discípulos: "Jesus veio a este mundo com o fim de morrer, e em sua jornada para a cruz dedicou sua vida na formação de alguns discípulos, os quais foram comissionados a proceder da mesma maneira, para que, pelo processo de reprodução, o Evangelho do Reino alcançasse os confins da terra (...) Lamentavelmente, poucos entendem o que isso significa, especialmente quando diz respeito ao seu viver diário. Muitas pessoas em posição de liderança na Igreja não têm a menor idéia do que seja ensinar alguém a observar e a guardar tudo o que Jesus ordenou. Nesse sentido, não causa surpresa o que acontece com tantos crentes que não conseguem ir muito longe em sua peregrinação de fé; tampouco aprendem a desenvolver o potencial de seu ministério".

O problema é que os investimentos de muitas igrejas não estão sendo direcionados para os relacionamentos entre as pessoas, mas para a manutenção da máquina institucional. Muitos líderes, de forma consciente ou não, estão mais preocupados em promover eventos que lance o seu ministério e sua denominação no mercado religioso popular. Para alcançar tal fim, não se economiza tempo nem dinheiro para participar de congressos que vão ensinar algo do tipo: “Como fazer sua igreja crescer”. Enquanto isto, o velho, eficaz, mas custoso método de Jesus é trocado por novas modas e técnicas impulsionadas por Marketing, e que funciona num contexto de muita agitação com mega-eventos de final de semana. O resultado é uma igreja que parece crescer, mas se revela frágil, sem força e incapaz de provocar profundas mudanças na sociedade dos dias atuais.

Os métodos mudaram, a eficácia também. Jesus investiu tempo e energia em relacionamentos com um grupo de homens, passava o seu tempo ensinando as pessoas pelo caminho, à beira-mar, dentro de casas e nas sinagogas, enquanto ia ministrando sinais e curas para aliviar o povo do sofrimento de doenças, enfermidades e opressões espirituais. A agenda de Jesus era preenchida com visitas, conversas, sermões e curas, numa intensa interação com o povo.

Hoje, o discipulado relacional deu lugar a uma aula semanal, uma reunião de oração no meio da semana e um culto dominical. A ênfase passou a ser o repasse de informações que é feito usando os mais modernos instrumentos de ensino. Pregar bons sermões se tornou a principal responsabilidade dos líderes, seguida da organização de reuniões, nas quais uns poucos treinados falam, e o resto do povo escuta, num contexto de pouca interação, nenhuma transparência e rasos relacionamentos. Parece exagero? Infelizmente é o exato quadro da grande maioria das igrejas na presente geração.

Faz-se necessário resgatar o tão conhecido modelo de fazer discípulos de Jesus. O problema é que este tipo de discipulado traz consigo o custo de muito tempo, energia e recursos que devem ser investidos na formação do caráter das pessoas em quem se quer ver a vontade de Deus sendo vivida. Foi precisamente isto que o apóstolo Paulo fez com Timóteo: “Tu, porém, tens seguido de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança.” (II Timóteo 3.10) e com os cristãos de Filipos: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco” (Filipenses 4.9). Em ambos os textos, Paulo coloca-se como referencial e modelo de vida para com aqueles cristãos. A Timóteo, ele diz: “tens seguido de perto”; aos filipenses, os chama a agirem com base naquilo que haviam visto na sua própria vida. Paulo não era do tipo que ensinava de púlpito ou numa sala de aula, para logo depois se recolher sem dar a menor chance de outros conferirem na sua vida o que ele tão ardorosamente havia exposto publicamente. Sem dúvida, dotado com a mente judaica que lhe era própria, Paulo sabia que o ensino verbalizado só seria completo se acompanhado de um modelo vivido que o exemplificasse.

Enquanto os líderes da igreja de hoje não se comprometerem em resgatar, na prática, o tipo de discipulado que se pode verificar em Jesus e em Paulo, há poucas esperanças de uma mudança significativa no estado espiritual da igreja contemporânea.

Compromissos e Datas



sexta-feira, 13 de abril de 2007

Agenda Fixa Semanal


Domingo
Valdimário - Treinamento de Líderes (Manhã)
Márcia - Escola Bíblica Infantil (Manhã)
Culto Dominical (Noite)

Segunda
Valdimário - Grupo do Montese
Márcia - Coral Ágape

Terça
Visitação

Quarta
Valdimário e Márcia - Grupo do Monte Castelo

Quinta
Valdimário - Seminário: Os Evangelhos

Sexta
Presença Aula Campinas

Sábado
Segundo Necessidade

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Evangelismo Por Amizade

As igrejas cristãs têm experimentado, na prática, a realidade de que o evangelismo mais eficaz é o que se desenvolve através de relacionamentos sinceros e saudáveis. Pode-se fazer grandes eventos de evangelismo em massa para iniciar algum processo de conversão na vida de pessoas; mas se estas mesmas pessoas não usufruírem de um envolvimento próximo com verdadeiros cristãos, elas podem até “se converter”, mas dificilmente vão sobreviver, pois identificarão o cristianismo como uma religião que acontece à base de encontros impessoais onde muita informação é dada, e não como um movimento de Deus que ocorre através de vidas que experimentam o evangelho de maneira poderosa no cotidiano normal.

Nas últimas décadas, as comunidades cristãs têm lançado mão de muitos instrumentos evangelísticos: campanhas em massa, trabalho de porta em porta, cursos em sala de aula, cursos por correspondência, pregações ao ar livre e muito mais. Todo investimento é válido se uma só alma puder ser levada ao Reino eterno de nosso Senhor Jesus. Mas até hoje, não se vê “método” mais poderoso e de tão longo alcance, quanto o evangelismo que acontece de maneira relacional e pessoal, onde o evangelizado é tratado como alguém singular e especial, com necessidades, dores e problemas específicos, e com histórico familiar bem particular.

A visão de evangelismo precisa ser mudada. A atitude não verbalizada com que muitos evangelizam, é expressa na seguinte pergunta: “Como posso convencer aquela pessoa a acreditar no que estou dizendo, com base na Bíblia (claro), e levá-la a Cristo e a participar da Igreja?”. A atitude correta deveria ser: “Como posso amar esta pessoa ao ponto dela se sentir amada por Jesus e ser atraída por Ele e pela Sua Comunidade?”.
Note que a primeira pergunta enfatiza o mero ensino e repasse de informações bíblicas; enquanto que a segunda acentua a necessidade de um relacionamento de amor, que com certeza incluirá o ensino verbal da vontade de Deus. A igreja contemporânea precisa estar convicta de que a melhor maneira, e a mais eficaz, de levar pessoas a Cristo é através do amor dedicado às pessoas ainda não-cristãs e a demonstração de amor entre os próprios cristãos. Este foi o método experimentado e ensinado por Jesus. Não foi à toa que Jesus orou ao Pai com as seguintes palavras:

Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. (João 17.20-23)

O texto acima, riquíssimo em conteúdo, deixa bastante claro a essencialidade de relacionamentos construídos, em amor, sobre o alicerce da relação de Deus com o seu próprio Filho, Jesus Cristo. O objetivo é expressamente indicado por Jesus: “para que o mundo creia que tu me enviaste” e “para que o mundo conheça que tu me enviaste”. Em outras palavras, o mundo dará crédito à mensagem do evangelho, na medida que seus proclamadores demonstrarem, entre si, o mesmo tipo de amor do Deus que anunciam. Ray Stedman, citado pelo TOUCH, alerta:

A igreja primitiva se valia de um duplo testemunho como meio de alcançar e impressionar um mundo cínico e incrédulo: Kerygma (proclamação) e Koinonia (comunhão). Era a combinação destes dois testemunhos que tornou o testemunho da igreja tão poderoso e eficiente. A igreja atual tem conseguido se livrar da koinonia quase que por completo, reduzindo o testemunho à proclamação (kerygma). Porém, ela tem sido bem-sucedida em fazer duas coisas simultaneamente:

> Remover a maior garantia de segurança para a saúde da igreja de dentro
> Enfraquecer grandemente seu testemunho efetivo diante do mundo lá fora

Não é de se estranhar, portanto, que a igreja tenha decaído em dias terríveis e é taxada por muitos no mundo como irrelevante e sem qualquer utilidade. O que nos falta terrivelmente é a experiência da ‘vida no corpo’; aquela comunhão aconchegante de cristãos com cristãos que o Novo Testamento chama de koinonia e que era algo essencial no cristianismo primitivo. O Novo Testamento coloca uma ênfase substancial sobre a necessidade que os cristãos têm de conhecer uns aos outros, intimamente o bastante para poderem carregar os fardos uns dos outros, confessar pecados uns aos outros, repreender, exortar e admoestar uns aos outros, ministrar uns aos outros com a palavra, pelos cânticos e pela oração, a fim de compreender com todos os santos, como diz Paulo, qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento (Efésios 3.18,19). No cristianismo primitivo um tipo de ritmo era evidente quando os cristãos se reuniam em casas para instruir uns aos outros, estudar e orar juntos e compartilhar o ministério dos dons espirituais. Então eles voltavam ao mundo para deixar que o calor e o brilho de suas vidas cheias de amor transbordassem em testemunho cristão espontâneo, que atraía os incrédulos famintos de amor da mesma maneira que uma confeitaria atrai pequenas crianças”.

Hoje em dia, não há como esperar que as pessoas dêem todo crédito à mensagem do evangelho do amor de Deus, se elas não conseguem ver este amor na vida dos que o proclamam. Na verdade, as pessoas estão cansadas de serem utilizadas como instrumentos de manobra política e religiosa. Com razão, qualquer aproximação com fins proselitistas é alvo de suspeitas. Daí a necessidade da igreja mudar a sua forma de abordagem, isto é, discursar menos e amar, na prática, mais. Faz-se necessário que a comunidade de cristãos antecipe a prédica com a prática, tocando as pessoas com real atenção, carinho e compaixão, enquanto ganha o direito de ser ouvida, tornando-se, conseqüentemente, convidativa. As pessoas serão mais atraídas pela presença do amor visível do que pela fria ortodoxia, por mais legítima que seja.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Visitação Entre Os Membros

O institucionalismo da religião cristã tem provocado uma relação muito superficial entre os membros de igrejas. As pessoas passaram a viver um cristianismo de reuniões impessoais, centralizadas na figura de um sacerdote, seja católico ou protestante, e onde há pouco espaço para relacionamentos profundos. Na visão de Ralph Neighbour:
Os primeiros cristãos se organizaram imediatamente em “grupos caseiros”, de 10-15 pessoas. Eles não usaram construções especiais para os seus encontros. Em vez disso, foram de casa em casa, compartilhando a sua comida e encorajando uns aos outros. Eles eram sensíveis às necessidades uns dos outros. Com o passar dos séculos, o povo de Deus deixou de ser uma família para ser uma organização. A igreja se tornou uma instituição. Levou alguns séculos, mas aos poucos a vida da família do povo de Deus foi substituída por diversos encontros em edifícios formais chamados de “igrejas”.

Devido ao impessoalismo que se instalou na cultura cristã, muitos nunca experimentaram viver o tipo de comunidade que Deus idealizou e que deixou exemplificada nas páginas do Novo Testamento. Durante a semana inteira, cristãos correm de um lado para outro, ocupados com trabalho, faculdade, atividades de lazer e viagens, limitando seu tempo “religioso” à meras duas horas de cada Domingo. Tal pessoa está fadada a uma vida essencialmente materialista e egoísta, sem qualquer relacionamento significativo que lhe proporcione viver o que a Bíblia chama de Reino de Deus.
Daí a importância de se procurar fazer parte de um grupo pequeno de discípulos de Jesus, com os quais se possa interagir e desenvolver um nível de convivência que possibilite o cumprimento do “uns aos outros”, tão necessário para o crescimento espiritual de cada cristão.
Nesta interatividade, não basta reunir, é necessário visitar uns aos outros e compartilhar momentos extra-reuniões. A visitação nas casas é absolutamente importante, pois proporciona um ambiente familiar que facilita a intimidade e profundidade relacional. É no momento destas visitas, que há espaço para confidências, transparência e desenvolvimento de conversas que vão ao encontro de solucionar problemas que dificilmente seriam expostos numa reunião com muitas pessoas.
Geralmente, visita em casas é algo que se espera do pastor da igreja, já que se acredita que este é o papel dele. No entanto, todos os membros do grupo precisam assumir a responsabilidade de cuidado mútuo. O apóstolo Paulo descreve a igreja como sendo o corpo de Cristo, formada de pessoas que se tornam membros uns dos outros.

Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito (...) De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam. Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo. (I Coríntios 12.12,13,26,27)

Para que este cuidado se concretize, faz-se necessário proximidade e intimidade, o que só é possível se houver disposição em ir ao encontro das pessoas com suas necessidades onde elas estão, e onde se sentirão mais à vontade em se abrirem. Desta forma, cada cristão será devidamente cuidado e não se tornará em apenas mais um número estatístico de igreja.

Quando uma congregação entra em crescimento, requer-se estratégias que ajudem não só a manter a igreja, mas também contribuam para que cada membro conserve sua identidade, uma vez que o grande risco a que se expõe a membresia, é que cada um seja apenas mais um ponto num conglomerado.

O trabalho de visitação constante entre os membros dos diversos grupos da igreja produzirá saúde espiritual em qualquer comunidade de cristãos, porque todos se sentirão apoiados, cuidados e valorizados.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Priorização Nas Relações Familiares

Uma vida de apego às Escrituras e de oração são fundamentais na formação de um caráter equilibrado que sirva como base na estrutura de um lar saudável, o que precisa ser encarado como uma das prioridades máximas de qualquer pessoa. Quando as relações familiares não estão bem, tudo o mais perde a devida estabilidade. E mesmo que se obtenha alguma forma de sucesso nas áreas profissionais, esportivas ou sociais, nenhuma delas compensará o fracasso na família.
O princípio de priorização familiar é bastante enfatizado nas Escrituras Sagradas, ao ponto do apóstolo Paulo ensinar que um líder na igreja só pode exercer seu ministério, caso “governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)” (I Timóteo 3.4,5). Desta forma, evita-se a triste incoerência fortemente denunciada por Spurgeon:

Devemos ser os melhores pais. Lástima! Alguns ministros que conheço estão longe disto pois, com referência às suas famílias, guardam bem as vinhas alheias, porém não guardam bem as suas. Seus filhos são negligenciados e não crescem como semente santa.

Quanto aos cuidados que os filhos e netos de uma família precisam dispensar à mãe ou avó viúva, Paulo diz: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (I Timóteo 5.8). O contexto ao qual Paulo se refere acima é de assistência física à viúvas, mas o princípio que ele expõe pode ser aplicado perfeitamente quanto à outras necessidades, sejam emocionais ou espirituais. Não há como ter uma conclusão diferente: Se um cristão não cuida do próprio lar, buscando suprir as necessidades familiares nas mais diversas áreas, ele está negando a fé e é pior do que o descrente. O cuidado familiar deve ser prioritário.
Na medida que esta prioridade vai além de conceitos e discursos, as famílias são fortalecidas e, conseqüentemente, a igreja é devidamente consolidada; pois, pessoas que nutrem saudáveis relacionamentos em casa, têm condições de desenvolver bons relacionamentos em outros grupos sociais maiores, como a igreja.

terça-feira, 10 de abril de 2007

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Oração Pessoal E Comunitária Constante

Orar é muito mais que falar com Deus, é experimentá-lo, senti-lo, é estar com ele, é se tornar um com ele, quando o espírito do homem se envolve com o Espírito dele numa relação de amor e entrega. Kivitz entendia o mesmo, quando escreveu: “Orar é penetrar em Deus, não para falar coisas para ele, mas para simplesmente experimentá-lo, em silêncio e afetivamente”. E nesta relação de entrega ao Criador, o ser humano passa a ter sua natureza restaurada à imagem e semelhança de Deus. Na medida que o homem se torna mais parecido com Deus, ele passa a pensar e agir conforme aquela imagem. Ora, sendo Deus justo, puro e amoroso, quem com Ele se parece agirá com justiça, pureza e amor em relação às outras pessoas. Para se ter bons relacionamentos na igreja, é necessário ter um bom relacionamento com Deus através da oração. É em Deus que o cristão recebe força para se conduzir em meio aos desafios do devido cultivo de relacionamentos com outros cristãos.
O próprio Jesus, para ter equilíbrio nas suas relações com os seres humanos, precisou desenvolver uma vida de oração eficaz. Logo após Seu batismo, Jesus ficou 40 dias em jejum no deserto, consagrando-se para o início do Seu ministério; e era comum para o judeu associar jejum e oração (Mt 4.1,2; 17.21). Antes de escolher Seus discípulos, passou a noite orando (Lc 6.12,13), e quando durante o dia havia muito trabalho, se levantava de madrugada para orar ao Pai, o que para Ele era inegociável (Mc 1.35-39). Consegue-se entender que a força que Jesus tinha para continuar sendo quem era, e fazer o que deveria ser feito, encontrava-se no Pai, a quem Ele buscava intensamente, em oração. Pelo orar, Jesus mantinha-se totalmente alinhado aos propósitos e vontade de Deus. E assim deve ser com os cristãos. Não há como negar a essencialidade da oração na vida de todo e qualquer discípulo de Jesus, objetivando também o mesmo alinhamento. Como disse Foster: “Na oração, na verdadeira oração, começamos a pensar os pensamentos de Deus à sua maneira: desejamos as coisas que ele deseja, amamos as coisas que ele ama. Progressivamente, aprendemos a ver as coisas da perspectiva divina”.