sexta-feira, 13 de abril de 2007

FATORES PARA A SAÚDE DA IGREJA



Evangelismo Por Amizade

As igrejas cristãs têm experimentado, na prática, a realidade de que o evangelismo mais eficaz é o que se desenvolve através de relacionamentos sinceros e saudáveis. Pode-se fazer grandes eventos de evangelismo em massa para iniciar algum processo de conversão na vida de pessoas; mas se estas mesmas pessoas não usufruírem de um envolvimento próximo com verdadeiros cristãos, elas podem até “se converter”, mas dificilmente vão sobreviver, pois identificarão o cristianismo como uma religião que acontece à base de encontros impessoais onde muita informação é dada, e não como um movimento de Deus que ocorre através de vidas que experimentam o evangelho de maneira poderosa no cotidiano normal.

Nas últimas décadas, as comunidades cristãs têm lançado mão de muitos instrumentos evangelísticos: campanhas em massa, trabalho de porta em porta, cursos em sala de aula, cursos por correspondência, pregações ao ar livre e muito mais. Todo investimento é válido se uma só alma puder ser levada ao Reino eterno de nosso Senhor Jesus. Mas até hoje, não se vê “método” mais poderoso e de tão longo alcance, quanto o evangelismo que acontece de maneira relacional e pessoal, onde o evangelizado é tratado como alguém singular e especial, com necessidades, dores e problemas específicos, e com histórico familiar bem particular.

A visão de evangelismo precisa ser mudada. A atitude não verbalizada com que muitos evangelizam, é expressa na seguinte pergunta: “Como posso convencer aquela pessoa a acreditar no que estou dizendo, com base na Bíblia (claro), e levá-la a Cristo e a participar da Igreja?”. A atitude correta deveria ser: “Como posso amar esta pessoa ao ponto dela se sentir amada por Jesus e ser atraída por Ele e pela Sua Comunidade?”.
Note que a primeira pergunta enfatiza o mero ensino e repasse de informações bíblicas; enquanto que a segunda acentua a necessidade de um relacionamento de amor, que com certeza incluirá o ensino verbal da vontade de Deus. A igreja contemporânea precisa estar convicta de que a melhor maneira, e a mais eficaz, de levar pessoas a Cristo é através do amor dedicado às pessoas ainda não-cristãs e a demonstração de amor entre os próprios cristãos. Este foi o método experimentado e ensinado por Jesus. Não foi à toa que Jesus orou ao Pai com as seguintes palavras:

Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. (João 17.20-23)

O texto acima, riquíssimo em conteúdo, deixa bastante claro a essencialidade de relacionamentos construídos, em amor, sobre o alicerce da relação de Deus com o seu próprio Filho, Jesus Cristo. O objetivo é expressamente indicado por Jesus: “para que o mundo creia que tu me enviaste” e “para que o mundo conheça que tu me enviaste”. Em outras palavras, o mundo dará crédito à mensagem do evangelho, na medida que seus proclamadores demonstrarem, entre si, o mesmo tipo de amor do Deus que anunciam. Ray Stedman, citado pelo TOUCH, alerta:

A igreja primitiva se valia de um duplo testemunho como meio de alcançar e impressionar um mundo cínico e incrédulo: Kerygma (proclamação) e Koinonia (comunhão). Era a combinação destes dois testemunhos que tornou o testemunho da igreja tão poderoso e eficiente. A igreja atual tem conseguido se livrar da koinonia quase que por completo, reduzindo o testemunho à proclamação (kerygma). Porém, ela tem sido bem-sucedida em fazer duas coisas simultaneamente:

> Remover a maior garantia de segurança para a saúde da igreja de dentro
> Enfraquecer grandemente seu testemunho efetivo diante do mundo lá fora

Não é de se estranhar, portanto, que a igreja tenha decaído em dias terríveis e é taxada por muitos no mundo como irrelevante e sem qualquer utilidade. O que nos falta terrivelmente é a experiência da ‘vida no corpo’; aquela comunhão aconchegante de cristãos com cristãos que o Novo Testamento chama de koinonia e que era algo essencial no cristianismo primitivo. O Novo Testamento coloca uma ênfase substancial sobre a necessidade que os cristãos têm de conhecer uns aos outros, intimamente o bastante para poderem carregar os fardos uns dos outros, confessar pecados uns aos outros, repreender, exortar e admoestar uns aos outros, ministrar uns aos outros com a palavra, pelos cânticos e pela oração, a fim de compreender com todos os santos, como diz Paulo, qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento (Efésios 3.18,19). No cristianismo primitivo um tipo de ritmo era evidente quando os cristãos se reuniam em casas para instruir uns aos outros, estudar e orar juntos e compartilhar o ministério dos dons espirituais. Então eles voltavam ao mundo para deixar que o calor e o brilho de suas vidas cheias de amor transbordassem em testemunho cristão espontâneo, que atraía os incrédulos famintos de amor da mesma maneira que uma confeitaria atrai pequenas crianças”.

Hoje em dia, não há como esperar que as pessoas dêem todo crédito à mensagem do evangelho do amor de Deus, se elas não conseguem ver este amor na vida dos que o proclamam. Na verdade, as pessoas estão cansadas de serem utilizadas como instrumentos de manobra política e religiosa. Com razão, qualquer aproximação com fins proselitistas é alvo de suspeitas. Daí a necessidade da igreja mudar a sua forma de abordagem, isto é, discursar menos e amar, na prática, mais. Faz-se necessário que a comunidade de cristãos antecipe a prédica com a prática, tocando as pessoas com real atenção, carinho e compaixão, enquanto ganha o direito de ser ouvida, tornando-se, conseqüentemente, convidativa. As pessoas serão mais atraídas pela presença do amor visível do que pela fria ortodoxia, por mais legítima que seja.

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