terça-feira, 24 de abril de 2007

Avivamentos Via Comunidade

Retrato de John Wesley,
George Romney - 1789

O Avivamento com Wesley

Em meados do Século XVIII, na Inglaterra, Deus levantou John Wesley para liderar um avivamento da igreja cristã naquele país. O que prevalecia era o sacerdotalismo corrupto, o religiosismo sem compromisso e o cerimonialismo oco que mantinha boa parte da Igreja Anglicana longe de viver os reais valores do Reino de Deus (LELIÈVRE:1997, 15,16). Com Wesley, o cristianismo passou a ser vivido na base de relacionamentos mais profundos, na medida que ele formava as “classes”, que eram pequenos grupos de cristãos que se reuniam semanalmente para estudar a Bíblia, orar uns pelos outros e ajudarem-se mutuamente a viver toda a vontade de Deus. O que marcou o movimento de Wesley não foi o institucionalismo clerical, mas as relações interpessoais entre os simples cristãos que se convertiam com a mensagem do puro evangelho.

Segundo o TOUCH Outreach Ministries (2004, C9-C10), uma instituição cristã americana que trabalha com a visão de igreja em células, John Wesley acreditava que decisões sem grupos pequenos eram prejudiciais, e ele desenvolveu um sistema de grupos pequenos – ou “método” – que veio a ser chamado de Metodismo. Chegou a formar 10.000 classes e cresceu por mais de 100 anos. As “classes” de Wesley exigiam participação obrigatória de seus membros, podendo ser lideradas por homens ou mulheres. Os grupos deveriam ter em torno de doze membros, de formação heterogênea (homens e mulheres juntos). A reunião semanal da classe era de uma hora, tendo compartilhamento transparente e cada segunda reunião do mês era aberta para não-crentes.

Conforme o biógrafo de Wesley, Mateo Lelièvre, baseado nas próprias anotações de diário do pregador inglês, afirma que a formação das classes se deu por um incidente, quando os principais cooperadores de Wesley estavam preocupados em saldar uma certa dívida.

"Uma dívida considerável pesava ainda sobre a capela de Bristol. No dia 15 de Fevereiro os principais membros daquela sociedade reuniram-se com o propósito de consultar sobre os melhores meios de amortizar a dívida. Alguém entre eles propôs que cada um contribuísse com um determinado valor por semana. Outro objetou que muitos deles eram muito pobres para suportar esse encargo. “Bem”, respondeu o primeiro, “sejam colocados comigo onze dos membros mais pobres; se eles puderem dar algo, tudo bem: eu os visitarei cada semana; e se não conseguirem oferecer algo, eu darei por eles e por mim. E cada um de vocês visite semanalmente onze de seus vizinhos, recolham o que puderem dar, e preencham a diferença”. “Assim foi”, diz Wesley, “que cada um lançou-se à campanha, e pouco tempo depois, segundo me informaram, descobriram que uns e outros membros não viviam conforme deveriam. Daí brotou o seguinte pensamento: ‘Esta é a organização que há tanto tempo estávamos precisando’”. A partir dessa data, Wesley reunia seus cobradores, que, além, de seu encargo financeiro, tinham o dever de zelar pelos interesses espirituais dos membros, informando ao pastor de tudo quanto era digno de atenção que observavam na sociedade. Algumas semanas mais tarde, esse sistema foi introduzido em Londres, e forneceu a todos os membros (da sociedade) a coesão que lhes faltava. “Desse modo”, diz Wesley, “começaram as nossas classes, pelas quais jamais poderei bendizer suficientemente a Deus, pois sua utilidade incalculável tem se ressaltado cada vez mais, dia após dia”. No início, os líderes de cada classe deviam visitar os membros em suas próprias casas; mas esse sistema não teve resultado prático, porque ocupava o tempo em demasia, que os líderes não tinham à disposição. Por essa razão, as visitas foram logo substituídas por uma reunião semanal dos membros da classe, na qual tratavam de assuntos religiosos, sendo que cada um contava suas experiências cristãs. Dividindo assim as sociedades em subgrupos com um responsável na frente de cada um, Wesley possibilitou grande eficácia e excelente disciplina em seu pastorado. Uma vez por trimestre, ele mesmo inspecionava as classes, investigando o estado espiritual de cada membro, e entregando a este uma certidão ou carta de membro que servia de autenticação de sua fidelidade". (LELIÈVRE:1997, 118-119)

Independente da forma como foram iniciados, os grupos pequenos de Wesley tornaram-se fundamentais na consolidação e expansão do movimento de avivamento que se deu na Inglaterra do Século XVIII. Com certeza havia o perigo de todo o esforço do avivalista resultar na formação de mais uma igreja que procurasse manter suas estruturas e instituições sem a devida eficácia no aspecto pastoral e relacional. No entanto, com os grupos ou classes, viabilizou-se a formação de uma rede de pequenos grupos de cristãos que se cuidavam e se apoiavam mutuamente.

É interessante lembrar que, simultâneo ao trabalho de Wesley, desenvolveu-se o ministério de Whitefield, grande e comovente pregador amigo de Wesley, que teve um trabalho bastante frutífero nos seus dias; milhares o ouviram e se converteram em função de seus poderosos sermões. Entretanto, não se escuta que Whitefield tenha deixado um trabalho tão bem estruturado e sólido como o de Wesley. Wesley soube equilibrar o trabalho com as multidões e os pequenos grupos. Ainda hoje existem centenas de igrejas metodistas pelo mundo, como fruto da estrutura deixada por aquele grande estrategista.

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