
Discipulado Relacional
LeRoy Eims, no seu livro A Arte Perdida de Fazer Discípulos, trás um alerta sobre o estado atual de muitas igrejas cristãs, as quais não conseguem cumprir a Grande Comissão delegada por Jesus, pela inabilidade de fazer discípulos: "Jesus veio a este mundo com o fim de morrer, e em sua jornada para a cruz dedicou sua vida na formação de alguns discípulos, os quais foram comissionados a proceder da mesma maneira, para que, pelo processo de reprodução, o Evangelho do Reino alcançasse os confins da terra (...) Lamentavelmente, poucos entendem o que isso significa, especialmente quando diz respeito ao seu viver diário. Muitas pessoas em posição de liderança na Igreja não têm a menor idéia do que seja ensinar alguém a observar e a guardar tudo o que Jesus ordenou. Nesse sentido, não causa surpresa o que acontece com tantos crentes que não conseguem ir muito longe em sua peregrinação de fé; tampouco aprendem a desenvolver o potencial de seu ministério".
O problema é que os investimentos de muitas igrejas não estão sendo direcionados para os relacionamentos entre as pessoas, mas para a manutenção da máquina institucional. Muitos líderes, de forma consciente ou não, estão mais preocupados em promover eventos que lance o seu ministério e sua denominação no mercado religioso popular. Para alcançar tal fim, não se economiza tempo nem dinheiro para participar de congressos que vão ensinar algo do tipo: “Como fazer sua igreja crescer”. Enquanto isto, o velho, eficaz, mas custoso método de Jesus é trocado por novas modas e técnicas impulsionadas por Marketing, e que funciona num contexto de muita agitação com mega-eventos de final de semana. O resultado é uma igreja que parece crescer, mas se revela frágil, sem força e incapaz de provocar profundas mudanças na sociedade dos dias atuais.
Os métodos mudaram, a eficácia também. Jesus investiu tempo e energia em relacionamentos com um grupo de homens, passava o seu tempo ensinando as pessoas pelo caminho, à beira-mar, dentro de casas e nas sinagogas, enquanto ia ministrando sinais e curas para aliviar o povo do sofrimento de doenças, enfermidades e opressões espirituais. A agenda de Jesus era preenchida com visitas, conversas, sermões e curas, numa intensa interação com o povo.
Hoje, o discipulado relacional deu lugar a uma aula semanal, uma reunião de oração no meio da semana e um culto dominical. A ênfase passou a ser o repasse de informações que é feito usando os mais modernos instrumentos de ensino. Pregar bons sermões se tornou a principal responsabilidade dos líderes, seguida da organização de reuniões, nas quais uns poucos treinados falam, e o resto do povo escuta, num contexto de pouca interação, nenhuma transparência e rasos relacionamentos. Parece exagero? Infelizmente é o exato quadro da grande maioria das igrejas na presente geração.
Faz-se necessário resgatar o tão conhecido modelo de fazer discípulos de Jesus. O problema é que este tipo de discipulado traz consigo o custo de muito tempo, energia e recursos que devem ser investidos na formação do caráter das pessoas em quem se quer ver a vontade de Deus sendo vivida. Foi precisamente isto que o apóstolo Paulo fez com Timóteo: “Tu, porém, tens seguido de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança.” (II Timóteo 3.10) e com os cristãos de Filipos: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será convosco” (Filipenses 4.9). Em ambos os textos, Paulo coloca-se como referencial e modelo de vida para com aqueles cristãos. A Timóteo, ele diz: “tens seguido de perto”; aos filipenses, os chama a agirem com base naquilo que haviam visto na sua própria vida. Paulo não era do tipo que ensinava de púlpito ou numa sala de aula, para logo depois se recolher sem dar a menor chance de outros conferirem na sua vida o que ele tão ardorosamente havia exposto publicamente. Sem dúvida, dotado com a mente judaica que lhe era própria, Paulo sabia que o ensino verbalizado só seria completo se acompanhado de um modelo vivido que o exemplificasse.
Enquanto os líderes da igreja de hoje não se comprometerem em resgatar, na prática, o tipo de discipulado que se pode verificar em Jesus e em Paulo, há poucas esperanças de uma mudança significativa no estado espiritual da igreja contemporânea.
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