
Mudança de Ênfase do Institucional para o Relacional
Com o movimento promovido por Paul Yong Cho, passou-se a dar uma nova ênfase na forma de se trabalhar a estrutura da igreja local. O enfoque muda-se do institucional para o relacional, isto é, passa-se a trabalhar mais os relacionamentos entre os membros da igreja, visando o fortalecimento da comunidade enquanto pessoas desejosas de se sentirem úteis e valorizadas. A visão é que os membros não existam meramente para sustentar a instituição ou a denominação religiosa, mas para o cuidado uns dos outros visando o bem de todos. O que passa a importar não é quanto a instituição é grande e poderosa, mas como os seus membros vivem e se relacionam.
Evidentemente, muito ainda precisa ser feito para que esta mudança se generalize no meio do povo cristão. E o ponto de partida são os líderes, os quais precisam rever quais as suas reais motivações e interesses no exercício do seu ministério. Aqui é propício a seguinte advertência:
De uns anos para cá o sucesso transformou-se num princípio de definição e identificação pastoral. Livros, congressos, seminários são oferecidos para dar ao pastor as ferramentas para um melhor desempenho de sua vocação. Pastores “bem-sucedidos” são convidados para apresentar os meios e técnicas que transformaram suas pequenas e desprezíveis igrejas em grandes corporações e seus orçamentos mirrados em cifras gigantescas. Congressos de pastores às vezes assemelham-se às feiras onde os expositores apresentam as últimas novidades do mercado: novos modelos de grupos familiares, métodos infalíveis de crescimento da igreja, seminários para tornar a pregação mais cativante, a administração mais eficiente, a liderança mais competente. Manuais com técnicas e fórmulas de sucesso se multiplicam, a oração torna-se menos necessária e a igreja se assemelha mais a uma grande empresa do que a uma comunidade de irmãos.
(BARBOSA:2003, 87-88)
Não se pode admitir que pessoas, em nome de Deus, sejam usadas como meros instrumentos de promoção pessoal de algum líder ou mesmo para exaltação de algum conglomerado religioso. Mas, infelizmente, esta é uma prática muito comum, e que produz grandes e profundos traumas na vida daqueles que acabam por descobrir que não passavam de simples peças de uma grande engrenagem jeitosamente manipulada.
Quando a ênfase está na instituição, o que importa é a performance, o alcance de alvos, o treinamento técnico, a estrutura funcional. Quando o foco recai sobre os relacionamentos, o que mais vale são as atitudes, o caráter, o apoio mútuo, a paciência uns com os outros, o perdão quando não se acerta.
Usando a terminologia de Ricardo Barbosa, precisamos escolher qual o tipo de relacionamento que vamos desenvolver com as pessoas: se do tipo contrato ou do tipo aliança. Quando a relação se dá na base do contrato, a pessoa é valorizada e admirada se cumprir devidamente suas obrigações e se satisfizer as expectativas daqueles que com ela se relacionam. No caso da relação tipo aliança, o indivíduo é reconhecido pelo seu valor intrínseco, em função do que desenvolve amizades, é respeitado e acolhido, e como resposta ao amor recebido, ele cumpre com suas obrigações. De forma que as obrigações da aliança não se tornam condições para o amor, são respostas ao amor (BARBOSA:2003, 78). Os relacionamentos tipo aliança são os que as pessoas estão interessadas em encontrar. Ciente desta realidade, Schwarz afirma:
Amor de verdade dá à igreja um brilho, produzido por Deus, muito maior do que programas evangelísticos, pois nestes a ênfase recai exclusivamente sobre modos verbais de transmissão. As pessoas sem Deus não precisam de discursos sobre amor; elas querem experimentar o amor cristão na prática do dia-a-dia. (1996, 36)
As comunidades cristãs do Século XXI precisam dar um passo decisivo na direção de mudar o enfoque do seu ministério, caso a sua ênfase atual não esteja sendo no desenvolvimento de relacionamentos saudáveis, propositais e construtivos entre os seus membros. E o processo de mudança começa com as lideranças.
Se o intuito dos líderes for o de manter controle sobre a massa, usar as pessoas para alcançar seus objetivos pessoais e construir o seu próprio império, ao invés do Reino de Deus, eles farão o povo acreditar que sua única função é dar suporte financeiro e serviçal para os empreendimentos dos que se auto-proclamam especiais representantes de Deus na terra. Mas se os líderes forem parecidos com Jesus e seus primeiros discípulos, eles farão questão de ensinar o povo, com palavras e atos, que o sacerdócio cristão é de todo crente, e que através de fortes relacionamentos interpessoais, cada um encontrará seu espaço para colaborar na edificação do corpo de Cristo, dando sua valorosa contribuição para a construção de uma comunidade que realmente traz glória para Deus diante dos homens. O destaque não será mais o homem do púlpito ou o nome da denominação. O realce ficará por conta do amor que se manifestará no trato das pessoas que formam a comunidade, numa aliança de compromisso e abnegação.
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